F1: Drive to Survive traz conteúdo para os novatos e deixa a desejar em alguns acontecimentos
- Laura Santos
- 26 de fev. de 2023
- 7 min de leitura
Em sua quinta temporada, a série Fórmula 1: Dirigir para Viver, mostra mais uma vez ser apenas uma jogada de marketing fictício e não um documentário
Escrito por: Laura Santos

Imagem: Fórmula 1
Quando a Liberty Media entrou na Fórmula 1, mudou tudo, e uma dessas mudanças foi o acréscimo de câmeras seguindo os pilotos. A Netflix – um dos principais streamings no cenário mundial – conseguiu trazer novidades para o esporte, incluindo o público, que se renovou com os mais jovens dando atenção aos pilotos. Entre os fãs mais velhos, porém, a série foi motivo de polêmica e ficou conhecida por dramatizar e não retratar o que realmente acontece pelos bastidores.
A temporada 5 não sofreu muitas mudanças quanto a isso. A Netflix suavizou de um jeito que ainda não tinha feito, e diminuiu a questão de rivalidades que foram chamadas de “forçadas” nos anos anteriores, apesar de seguir a tendência de ficção, não de documentário. Além disso, a série também conseguiu dar mais entretenimento do que na temporada 4, que foi alvo de muitas críticas. Os 10 episódios certamente servem para passar o tempo, mas com certeza não devem ser usados como fontes de conhecimento sobre o esporte.
Os assuntos retratados também foram duvidosos. Apesar de termos mais de 20 corridas – todas com uma história para contar –, a série parecia estar em um loop infinito dentro de Silverstone. Em alguns outros momentos era possível ter esse mesmo sentimento com o Grande Prêmio do Bahrein, especialmente nos 3 primeiros episódios, e também com Suzuka durante dois episódios no meio da temporada. Por causa disso, infelizmente, outras ótimas corridas acabaram ficando de fora, como foi o caso do GP de São Paulo.

Imagem: XPB Images
Entre dramas da dobradinha da Mercedes, pole de Kevin Magnussen e desentendimentos internos na Red Bull, a Netflix escolheu não retratar nada disso dentro de Interlagos e mostrar imagens da corrida durante menos de 3 minutos em todos os 10 episódios. O que, particularmente, achei um desperdício de conteúdo – assim como no ano passado.
Porém, no fio a fio é possível fazer uma análise e encontrar ambos pontos negativos e positivos para os fãs. O primeiro episódio tem o título de “O novo amanhecer”. Nessa introdução do que é o resto da série, a Netflix já começa com uma de suas estrelas, Gunther Steiner, sendo colocada em evidência. O problema da Haas com suas conexões com patrocinadores russos – além do seu então piloto Nikita Mazepin –, ao mesmo tempo em que a guerra entre Rússia e Ucrânia entra no cenário mundial, é o primeiro que deve ser resolvido. A entrada tardia de Kevin Magnussen no campeonato é, portanto, bem retratada, puxando já para seus bons resultados ao longo da temporada.
A Ferrari entra em cena com esperanças de um bom campeonato após sua vitória no GP do Bahrein, em contraste com a quebra dos dois motores da Red Bull. Além disso, a Mercedes também vê sua esperança de “pegar o campeonato que tomaram deles”, de acordo com as palavras de Lewis Hamilton na série, indo embora. A equipe alemã é, inclusive, a estrela do episódio 2, intitulado de “De volta à pista”. Lá, os pilotos são vistos ainda analisando seus carros e a diferença para os outros após uma mudança de regulamentos. O problema da Mercedes com os quiques da W13 são criticados e vividos por Toto Wolff, George Russell e Lewis Hamilton.
O episódio 3, “Chefe de equipe”, é um que chama a minha atenção. Apesar de tratar sobre a Ferrari, que começa a encarar algumas dificuldades, o começo da narrativa parece uma total propaganda do Grande Prêmio de Miami, uma pista que foi duramente criticada pelos fãs. Stefano Domenicali, o CEO da F1, entra como personagem principal dos primeiros 10 minutos do capítulo. Durante os quais, ele faz o maior marketing possível para a pista, deixando o início do episódio tedioso.

Imagem: Planet F1
É apenas nos últimos 30 minutos que a narrativa real começa. O contraste entre a vitória de Carlos Sainz na Inglaterra e Charles Leclerc observando o campeonato escorregar de suas mãos torna tudo mais interessante. A visão dramatizada do relacionamento entre Mattia Binotto e seus dois pilotos transforma o espanhol em uma espécie de “vilão”, deixando a imagem de que o monegasco pilotou sozinho. Quando, na verdade, a Ferrari jogou em equipe no ano passado, sem dar prioridade a nenhum dos dois.
Para quem é fã da família Schumacher, o episódio 4, “Tal pai, tal filho?”, vai do céu ao inferno várias vezes. Mick Schumacher, filho do heptacampeão, é comparado em múltiplas ocasiões ao pai, tentando provar o seu valor ao mesmo tempo em que sente a pressão do nome cair sobre si. Gunther Steiner aparece mais uma vez em um conflito interno entre demitir ou não o alemão, quando a diferença entre as performances dele e de Magnussen começam a incomodar Gene Haas.
Essa linha inacabada foi algo que certamente me incomodou, já que não é algo realmente definido e a decisão do chefe só é mostrada ligeiramente no final da temporada. O episódio 4 finaliza, novamente em Silverstone, onde Schumacher conquistou seus primeiros pontos. O roteiro conta também com menções ao heptacampeão a partir de depoimentos de Sebastian Vettel, Max Verstappen e do próprio filho. Essa certamente foi uma boa jogada de marketing por parte da Netflix para o filme “Schumacher”, um filme da plataforma sobre a carreira de Michael.
Apesar disso, a linha mais bem acabada acontece no episódio seguinte. O episódio 5, chamado de “Desculpe meu francês”, foca na trama da Alpine. Com Otmar Szafnauer saindo da Aston Martin para a Alpine, a batalha entre a equipe francesa e a McLaren pelo quarto lugar no campeonato faz com que o chefe vire um protagonista para o resto da temporada. Além disso, Oscar Piastri é apresentado para introduzir o drama de sua saída para o time rival, que é tratada como traição, logo após a saída de Fernando Alonso para a equipe britânica, descrita como “falta de lealdade” por Szafnauer.
A aposentadoria de Sebastian Vettel é comentada para começar todo o drama, mas em nenhum momento da série é feita alguma espécie de homenagem. A importância do alemão não é citada por nenhum comentarista ou piloto, o que me intriga e indigna muitos dos fãs.

Imagem: Motorsport week
O episódio 6, “Os bonzinhos se dão mal”, continua o drama da Alpine, dessa vez em uma outra rivalidade. Cogitando uma troca de pilotos com a McLaren, o passado de Daniel Ricciardo na Renault é trazido à tona. Ao mesmo tempo em que Otmar busca alguém experiente, como o australiano, ele busca alguém jovem e motivado, o que leva Pierre Gasly até a equipe francesa. Isso se transforma em uma rivalidade, para ver quem performa melhor e ganha a vaga no time. A escolha é feita no GP de Zandvoort, o que faz com que o francês conquiste o assento.
O sétimo episódio, “Berlinda”, é um dos mais interessantes em minha opinião. A Netflix foca na relação de Sergio Perez e Christian Horner, principalmente. Com o dever difícil de ser o fiel escudeiro da equipe, o mexicano sofre as consequências de um começo ruim de temporada e começa a tentar se reerguer na temporada, o que nos leva ao Grande Prêmio de Mônaco. A dinâmica interessante que a produtora “Box, box, box” propõe, mostra, além disso, vários flashes da briga pelo campeonato entre Ferrari e Red Bull. A importância de Checo – como Perez é apelidado – para a RBR é relevante nesse episódio.
Com o episódio anterior interessante, a Netflix coloca um roteiro um pouco mais "batido" em seguida. O “Macho alpha” é um episódio que tenta trazer um lado mais interessante da história da Alpha Tauri com a saída de Pierre Gasly e uma possível disputa entre Nyck de Vries e Yuki Tsunoda para liderar a equipe. Preciso dizer, porém, que não é algo muito legal de se ver. É possível sentir um apelo muito grande da produção para mostrar Tsunoda, que foi apagado em muitos momentos do ano de 2022. O episódio 8 inteiro é vivido dentro dessa narrativa, o que, particularmente, achei que deixou mais cansativo.
O episódio 9, chamado de “Acima do limite”, se passa na atmosfera da Red Bull, tratando do teto de gastos. Os conflitos de Horner com Zak Brown, Wolff e Mattia Binotto começam a esquentar e tudo isso é evidenciado na série. A conquista dos dois campeonatos – de pilotos e de construtores – são também retratados nesse episódio. Uma homenagem singela à Dietrich Mateschitz, co-criador da Red Bull que faleceu no ano passado, também é feita.
“Fim da linha” é o título do décimo e último episódio da quinta temporada da série. Os 32 minutos fecham as linhas da briga da Alpine e McLaren – que termina com Alpine na frente – e da Mercedes e Ferrari – que acaba com a equipe italiana na frente. Interlagos aparece duas vezes nesse episódio, as únicas vezes, por menos de 3 minutos, apenas para fazer menção a dobradinha das flechas de prata e a pole de Kevin Magnussen, o que não afeta muito na narrativa.
No final do episódio, a Netflix faz uma homenagem a Daniel Ricciardo, um dos pilotos que ajudou a popularizar a série e dá adeus à outros pilotos que ficaram sem lugar no grid de 2023. Além disso, eles dão boas vindas aos novos pilotos, sejam eles rookies – como é o caso de Logan Sergeant e de Oscar Piastri – ou não – que foi o caso de Nico Hulkenberg, que fez aparições nas temporadas anteriores.

Imagem: Motorsport Images
Outros eventos da temporada, como o adeus de Nicholas Latifi não é nem sequer mencionado. A Williams mal aparece na temporada e as únicas vezes em que aparece é pelo uniforme de Jos Capito que comenta alguns acontecimentos. Alex Albon e Nicholas Latifi não aparecem nenhuma vez em cenas de estúdio. Além dela, a Aston Martin também não participa – só Sebastian Vettel aparece em estúdio – e a Alfa Romeo também fica mais apagada – Guanyu Zhou e Valtteri Bottas não foram inseridos na narrativa, enquanto Vasseur aparece no final para anunciar sua ida para a Ferrari.
No geral, a série passa o tempo e consegue capturar a atenção dos telespectadores. Mais uma vez, eles fazem algumas pessoas de protagonistas, enquanto deixam outros de lado. Apesar de tudo, vale a pena dar a conferida na obra. Em minha opinião, a qualidade de alguns episódios é muito alta em relação a outros que deixam a desejar. Os episódios 1, 4 e 5 foram definitivamente meus favoritos, enquanto os episódios 6 e 8 foram meus destaques negativos.
A quinta temporada da série conta com 10 episódios de 30-50 minutos e não segue uma ordem cronológica, o que possibilita você assistir os episódios que quiser. Enquanto isso, a sexta temporada já está confirmada pela Netflix e será produzida ao longo deste ano.
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